Olhando pela janela se vê um céu estranhamente amarelado, parecendo até mesmo película de cinema. Saindo de casa, ao respirar o ar, se percebe um estranho cheiro de fumaça e uma certa dificuldade para respirar. Caminhando pelas ruas, se olha ao redor e se repara algo peculiar, as pessoas retornando a usar máscara, será o retorno da pandemia da Covid-19? Ou a gravação nos estúdios de Mad Max?
Assim como no Brasil, o norte de Portugal enfrenta uma pandemia, mas, desta vez, se trata de uma “pandemia das chamas”. O país europeu enfrenta mais de 100 focos de incêndio ativos nas florestas, sendo que 28 deles são considerados graves. Segundo a Guarda Nacional Republicana (GNR), mais de 5 mil bombeiros estão atuando no combate ao fogo. Um brasileiro, inclusive, já foi uma das fatalidades das queimadas ao morrer carbonizado tentando salvar aparelhos de seu trabalho.
Um dos locais de incêndio grave foi no município de Gondomar, na Região Metropolitana do Porto. A estimativa é de que já foram queimados 96 km². Baianos que residem na segunda maior cidade de Portugal relataram que a cidade foi tomada pela fumaça nesta semana, principalmente na última terça-feira (17), quando chegaram a usar máscara para poder se locomover.
Natural de Salvador, o fotógrafo e jornalista Caíque Bouzas, contou que as mudanças nos céus do Porto começaram a partir desta segunda-feira (16). Segundo ele, s a sensação é de estar “abafado”, sentindo “cheiro de fogo”. Bouzas também afirmou é “normal” aparecer neblinas na cidade, mas que geralmente elas aparecem com uma brisa fria, mas, desta vez, o nevoeiro veio com uma sensação de calor.
“Estamos passando por uma fase parecida com a do Brasil, com incêndios nas florestas, muitos deles criminosos. Aqui em Porto o céu está com bastante fumaça. É estranho porque você sente o abafado com aquele cheiro de fogo. Chegou um momento que foi surpreendente na tarde de terça. Já estava tudo com neblina, aqui é comum ter essa neblina geralmente fria, mas nesse caso foi abafado. É estranho ver as paisagens totalmente ofuscadas pela fumaça. Na terça o Sol estava completamente tomado, com uma luz de pôr do sol, mas durante todo o dia, com a luz amarelada. Na terça ficou tudo completamente amarelado, como se fosse uma película de filme. Foi assustador, parecia o apocalipse”, contou Bouzas.
O jornalista baiano afirmou que voltou a usar as máscaras faciais, aquelas mesmo que eram usadas na época da pandemia, e falou sobre o sentimento de estranheza. Ele relatou que a diferença na qualidade no ar é notável, dificultando em atividades do dia-dia.
“Muita gente usando máscara hoje, inclusive eu voltei a usar. Não achei que fosse voltar a usar tão cedo. Realmente você fazer um esforço físico a mais você sente a diferença na qualidade do ar. Subir ladeira é mais difícil, já se fica mais ofegante. Situação difícil. Espero que a chuva volte. Em casa as janelas estão fechadas o tempo todo para dar uma amenizada no cheiro forte”, disse Bouzas.
Imagens da situação do Porto sem utilização de filtros | Fotos: Caíque Bouzas
Em intercâmbio no Porto desde o início deste ano, o estudante baiano Guthemberg Ferreira, afirmou que as imagens que tem visto pelas ruas da cidade o relembrou cenas do filme “Mad Max”, por conta do céu amarelado. Ele também relatou que se tornou comum novamente ver pessoas com máscaras na rua, buscando evitar respirar o ar tomado pela fumaça proveniente das queimadas no entorno do município.
“Os incêndios são ao redor do Porto, como se fosse Lauro de Freitas para Salvador. Não tem incêndio aqui teoricamente, mas está parecendo São João, estamos respirando fumaça. Moro no terceiro andar e meu apartamento está tomado por poeira. Está parecendo Mad Max, tá tudo amarelo”, contou.